quinta-feira, 9 de julho de 2009

Transtorno Bipolar- o humor e sua oscilações

Estamos vivendo uma época em que o Transtorno Bipolar está sendo cada vez mais conhecido da população e parece ser uma "doença da moda". O que nem todo mundo sabe é que esta é uma doença reconhecida há muitos séculos. Desde a Grécia antiga, já existem relatos de quadros de alterações de humor. Este transtorno caracteriza-se por mudanças acentuadas e súbitas de humor, que interferem grandemente no funcionamento da pessoa e em sua vida familiar, amorosa e profissional. Basicamente, seu portador apresenta sintomas de duas polaridades (daí o seu nome). De um lado, existem os sintomas de depressão, com a tristeza, o desânimo, a negatividade na maneira de ver a vida e as alterações do sono, apetite, libido. De outro lado, estão os sintomas chamados de maníacos, com euforia, irritabilidade, grandiosidade, excesso de auto-estima e auto-confiança, impulsividade e aumento da energia e do nível de atividade. O que nem todo mundo sabe, é que, se não for adequadamente tratada, esta doença pode ser progressiva. Cada episódio de mania ou de depressão é "tóxico" para o cérebro, liberando várias substâncias nocivas para o funcionamento dos neurônios (como a dopamina e o glutamato). Isto pode fazer com que o portador de Transtorno Bipolar, com o tempo, passe a ter problemas de memória, atenção e raciocínio. O importante é que tudo isso pode ser prevenido e amenizado com os medicamentos.

3 comentários:

  1. Bom dia.
    Sou filha de uma doente a quem foi diagnósticado doença bipolar há cerca de 7 anos. A meu ver ela sempre terá sido possuidora desta doença mas esta terá sido diagnosticada tardiamente. Digo isto porque convivo com este problema há mais de 20 anos (tenho 28 anos actualmente), e na década de 80 a medicina do foro psiquiátrico não dispunha os conhecimentos que hoje existem.
    No ano de 2007 foi-lhe efectuada uma TAC, que mostrou que as células cerebrais estavam já envelhecidas. Há algumas semanas atrás pedi ao psiquiatra que ordenasse outra TAC porque considero que a doença sofreu uma evolução acentuada com a menopausa e a morte da minha avó. Este meu pedido não foi levado em linha de conta.
    Eu suspeito que a minha mãe está a ficar demente. Neste momento mostra-se incapaz de executar capazmente algumas tarefas básicas do dia-a-dia como cortar um bife, passar roupa a ferro, por vezes as conversas são incoerentes e eu posso perguntar uma série de coisas à minha mãe no espaço de 15/30 minutos, e ela não se recorda de eu ter feito a mesma pergunta.
    Perante estes exemplos, a pergunta que eu quero deixar é se de facto a doença bipolar pode levar a uma demência precoce, e quais os sinais detectáveis para esta situação. Será aconselhável consultar um neurologista? Se de facto a minha mãe está a ficar demente e mediante os exemplos que dei, será possível fazer uma mera estimativa do avanço da demência, até existir uma dependência total?

    Obrigada.
    Inês (Portugal)

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  2. Prezada Inês,
    não tenho como tecer comentários específicos em relação ao caso de sua mãe, pois não a conheço e nunca a examinei, mas vou tentar expôr aqui alguns comentários gerais que, espero, lhe sejam úteis. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o Transtorno Bipolar costuma ter o seu diagnóstico feito, em média, 8 anos após o surgimento dos primeiros sintomas. O mais comum é que os portadores desse problema iniciem seu quadro com episódios de depressão que, muitas vezes, são confundidos com o diagnóstico de um transtorno depressivo. O atraso no diagnóstico pode levar a uma maior dificuldade no tratamento e ao uso de medicamentos incorretos.
    Especificamente em relação às perdas cognitivas (de memória, atenção, concentração e raciocínio) sabe-se que a doença de longa duração e a presença de múltiplos episódios (mais de 10), especialmente de mania são o fator determinante mais marcante. Apesar do transtorno bipolar poder levar a esses prejuízos cognitivos, quando eles são muito pronunciados, quando se desenvolvem em curto espaço de tempo ou quando progridem de forma marcada devem, sim, demandar uma investigação mais detalhada. Esta pode ser feita com exames de sangue, de neuroimagem ou com testes neuropsicológicos, conforme o caso. Assim, pode-se definir se está ocorrendo ou não um quadro demencial, que tipo de quadro é esse e qual o seu prognóstico e tratamento.
    Espero ter ajudado você.
    Um abraço

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  3. Bom dia Elisa.
    O seu email me deu uma ajuda enorme. Digo que a minha mãe é bipolar há 7 anos porque foi nessa altura que por acaso me informaram, mas provavelmente já a doença já teria sido diagnostica há mais tempo.
    Diz-me que os múltiplos episódios são determinantes para perdas cognitivas, a minha mãe já teve muito mais que 10 episódios tanto de mania como depressivos, o que me leva a pensar em que posso ter alguma razão em querer levar a minha mãe a um neurologista. eu quero levá-la, a enfermeira que lhe dá o haldol injectável mensalmente também concorda comigo, mas a psiquiatra dela não acha necessário, e não leva muito a minha opinião em conta. Em Portugal o nosso sistema de saúde mental não funciona bem, o psiquiatra não gosta muito de dar ouvidos à família, e quando os doentes são internados, ficam lá até somente estabilizarem. Aqui os médicos não esperam ver melhoras nos doentes mentais. Desde que eles andem, falem e comam por si próprios, podem sair do internamento, mesmo arrastando os pés ou se babando.
    Acredito que no Brasil o sistema de saúde mental seja muito melhor que o nosso.
    Peço desculpa por este meu desabafo, e mais uma vez muito abrigada pela sua ajuda.
    Cumprimentos.
    Inês
    Portugal

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