terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Eletrochoque: porque um tratamento tão efetivo é tão combatido?

A eletroconvulsoterapia (também conhecida como ECT) consiste na aplicação de uma corrente elétrica na região das têmporas, sob condições de anestesia (com o paciente dormindo e sem sentir nada). É sabidamente um dos tratamentos mais eficazes da psiquiatria para depressões muito graves, no transtorno bipolar e na esquizofrenia, e também tem uma indicação naqueles casos em que, por algum motivo, o paciente não pode fazer uso de medicamentos, como na gravidez. É interessante que, esse método, permanece no imaginário de algumas pessoas não como um método de tratamento, mas como um método de tortura, como se fosse um tratamento cruel ou desumano. Acho interessante que, a maioria das pessoas que criticam o ECT nunca presenciou uma sessão de ECT e muitas vezes, sequer conversou com um paciente ou com um familiar de paciente que tenha sido submetido a esse método. Recentemente o programa "Profissão Repórter" exibiu uma sessão de ECT, o que foi muito esclarecedor pra muita gente. Depois do programa, algumas pessoas que não são médicas, vieram comentar comigo o assunto, sempre com aquele teor de"Nossa! Tanto barulho por uma coisa tão simples!". O que acaba acontecendo, sempre que o preconceito ocupa o lugar da ciência, é que a controvérsia acaba tomando uma cara muito mais política e econômica do que propriamente médica. O que acontece com a ECT é que ela não faz parte da tabela do SUS. E o que isso quer dizer? Quer dizer que se o hospital quiser oferecer o ECT para os seus pacientes, ele vai ter que arcar com todos os custos, sem receber absolutamente nada por isso. O que acaba acontecendo é que somente hospitais universitários, que tem interesse em oferecer formação em ECT aos seus residentes ou que sejam de serviços de ponta possuem preparo e aparelhagem para ECT. E, o que é mais grave. A grande maioria dos hospitais com esse perfil estão concentrados nas regiões sul e sudeste, deixando uma grande parte da população desassistida. E, justamente, uma parcela da população que é portadora de quadros psiquiátricos graves. Está na hora da sociedade refletir sobre o que precisa ser feito para proteger as pessoas que são portadoras de transtornos mentais e oferecer a elas o melhor tratamento possível para o seu caso. Esse é um direito fundamental de todo o ser humano.